Compreender e interpretar melhor os textos

Para começo de conversa, ninguém lê bem um texto de uma só vez. A leitura é uma prática que depende do aproximar-se com respeito em relação às ideias do outro e para isso é preciso passar mais de uma, duas até três vezes pela mesma sentença. Tem a ver com empatia/simpatia. Mesmo que seja, sei lá, Direito Tributário ou até mesmo Direito Empresarial. Exige um tempo de que não dispomos (ou achamos que não). Mas se o jogo for por aí nenhum texto será lido. 

Por isso, é preciso aproximar-se do que foi codificado por alguém de forma tranquila e inteira, percebendo primeiramente as ideias com que estamos mais acostumados, mais familiares, depois enfrentando aquelas de que nunca ouvimos falar. E esse enfrentamento/concentração depende de pesquisa sim, de ouvir mais sobre o assunto até formar um conjunto de ideias que permita que a compreensão seja possível como ouvir o vendedor de gás/pamonha (cadê esses vendedores de carro de anúncio?) passando na esquina. Sem esse corpo de ideias anteriores, nenhum texto será lido DE FATO.  

É que para codificar cada palavra houve uma formação de quem escreveu. Nenhum leitor decodificará em profundidade qualquer termo se não participar da cultura/conhecimento do escritor. E essa participação se faz prestando mais atenção, analisando com cuidado, voltando até que o encontro entre o que você dispõe de repertório se depare com o repertório de quem escreveu. E o gostoso desse movimento é quanto mais você o pratica mais habilitado em ler fica. Mais fácil serão as próximas leituras sobre o mesmo tema. 

Em Eros, o doce-amargo, Anne Carson escreveu no prefácio, primeira linha: “ ‘O pião’, de Kafka, é a história de um filósofo que quando tem tempo fica entre as crianças, tentando agarrar piões a girar”. Ora, para iniciar o entendimento sobre o que Carson diz, é preciso ler “O Pião” no mínimo. Melhor se dá a leitura se houver algumas informações sobre Kafka. Sem esse conhecimento prévio, ficamos com a decodificação mais rudimentar possível: atingimos a superfície do texto. Estudar é fácil, mas exige estratégia, inteligência seletiva, concentração. Cada uma dessas habilidades pode ser adquirida. Mas não acontece por mágica.

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.